*Por Ivan Romão em coautoria com Oswaldo Bueno

conservação vacinas

É preciso cuidar desde a produção, o armazenamento, o transporte e a conservação das vacinas.

Em janeiro deste ano começou no Brasil a vacinação contra a covid-19. Para que esse fato se concretizasse, diversas medidas foram tomadas, entre elas o cuidado com a refrigeração e o armazenamento dos frascos de vacina, iniciando uma nova batalha.

Houve alguns casos de perda do imunizante por problemas com a temperatura. Em São Paulo (SP), após uma forte chuva, acabou a energia elétrica, e consequentemente os aparelhos de refrigeração deixaram de funcionar, comprometendo 112 vacinas. Outro caso, em Vila Velha (ES), uma falha mecânica do equipamento afetou mais de 500 ampolas.

Diante disso, passou-se a dar atenção para assuntos relativos ao acondicionamento de vacinas – prática que sempre existiu, porém, não era destacada. A refrigeração de imunizantes tem por objetivo manter as características imunobiológicas, então a má conservação por temperatura pode comprometer sua composição, por exemplo:

  • Medicamentos termolábeis: derivam de ativos biológicos e normalmente exigem temperaturas de armazenagem entre 2 ºC e 8 ºC, por isso não devem sofrer alterações durante toda a cadeia do frio. Caso isso ocorra, há um risco de inativar as substâncias e, consequentemente, elas deixarem de produzir efeitos.
  • Medicamentos termoestáveis: fabricados a partir de substâncias que podem se manter ativas na temperatura ambiente. Portanto, permanecem eficazes durante determinado período fora de refrigeração ou, até mesmo, dispensam totalmente a conservação refrigerada.

Para assegurar o efeito das vacinas termolábeis é necessário manter a temperatura recomendada em ambiente refrigerado, seja ele de +5 ºC, -20 ºC ou mesmo -70 ºC, ao longo da Rede de Frio. Para essas temperaturas não é recomendado o uso de equipamentos domésticos, como geladeiras (de +2 ºC a +8 ºC) e congeladores de -25 ºC a -15 ºC, mas sim utilizar equipamentos comerciais/industriais que operam nestas mesmas faixas. Deve-se acrescentar equipamentos de refrigeração de ultrabaixa temperatura na faixa de -70 ºC a -80 ºC, para a vacina da Pfizer – que seria um desafio, mas Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou novas condições de conservação e armazenamento do imunizante, passando a ser mantido em temperatura controlada entre 2ºC e 8ºC por até 31 dias. A orientação anterior era de cinco dias.

A questão da refrigeração é importante, assim como as diferentes etapas de armazenagem, transporte, distribuição e consumo da cadeia do frio, porque os medicamentos termolábeis exigem cuidado redobrado com o monitoramento da temperatura ao longo de todo o processo. Deve-se seguir uma série de normas e regras de boas práticas para garantir a integridade física e as características farmacológicas desses produtos, mantendo sua eficácia. Para o transporte da vacina Pfizer, por exemplo, são empregadas caixas térmicas com temperatura controlada especialmente projetadas, utilizando gelo seco e isolamento térmico para manter as condições recomendadas de temperatura de armazenamento de -70 °C ± 10 °C por até 10 dias sem abrir.

Para ter certeza de que a vacina foi mantida nas condições de temperatura de sua armazenagem, é importante o uso de um registrador de temperatura, desde a sua fabricação, armazenagem, transporte e distribuição final.

É importante perceber que o controle da umidade no ambiente onde os congeladores de ultrabaixa temperatura estão localizados também é importante para reduzir a carga de refrigeração devido ao acúmulo de gelo sobre as aletas. É recomendado um ponto de orvalho de +5 ºC, que corresponde a uma umidade absoluta de 0,0055 kg de vapor/kg de ar seco.

Se é das crises que surgem novas ideias, para as empresas de refrigeradores esta é uma oportunidade que já está criando movimentação no mercado. Uma fábrica de refrigeradores de vacinas em Piracicaba (SP) dobrou sua produção nos últimos meses e não foi suficiente para atender a demanda. Isso impactou inclusive o quadro de funcionários, que também cresceu. Outra companhia já do ramo de refrigeradores e freezers aproveitou sua estrutura e lançou sua própria linha de refrigeradores para armazenar vacinas, uma vez que desde 2019 não é mais permitido armazenar imunizantes em geladeiras comuns.

O processo de vacinação é mais complexo do que se imagina, pois não bastam os insumos e imunizantes, é necessário todo um cuidado desde a produção, o armazenamento, o transporte e a conservação. E paciência para aguardar chegar sua vez na fila.

*Ivão Romão, Gerente da Febrava e Oswaldo Bueno é consultor técnico da ABRAVA e Gestor do CB 55 da ABNT

Com informações da Febrava

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